domingo, 29 de março de 2020

Dia 16 - Isolamento Profilático

Ontem a A❤, antes de adormecer, começou a colocar algumas questões em relação ao vírus, às quais fui respondendo com a verdade.
E a dada altura, ela disse: "Pensava que estava tudo bem...". 
"E vai ficar tudo bem, quando isto passar.", respondi eu.
"Não, mãe!", insistiu, "Pensava que estava tudo bem no Mundo...". 
E aqui eu percebi o que ela queria dizer. 
De acordo com a pedagogia Waldorf, no primeiro septénio, a crianças visualizam o mundo como sendo bom. Não sigo esta pedagogia, mas interessei-me por ela, há uns anos, alguns ensinamentos fizeram-me sentido e ficaram em mim. 
Ontem, com esta reflexão e, em resultado de toda esta situação anómala que vivemos, ela tomou consciência, se calhar um pouco mais cedo do que seria suposto numa situação de vida normal, que nem tudo no mundo é bom. Não há perfeição. Nem tudo está sempre bem!
Mas ainda assim, estou cá para a fazer acreditar que, apesar das suas muitas imperfeições, o mundo é belo!
Foi o que fiz hoje. Tivemos um dia feliz! Fizemos coisas divertidas! Rimos, brincámos, mimámo-nos, estivemos juntos. 
Desarrumaram o quarto (e a sala!), desenhámos as sombras dos bonecos, lemos livros (ora sozinhos, ora acompanhados), fizemos puzzles (para variar!), brincámos muuuuuito no quintal, plantei relva...
Enquanto fazia o almoço, ao ouvir Boris Brejcha, deixei escapar umas lágrimas. É uma música bonita, que mexe habitualmente com as minhas emoções. E dei por mim a pensar que tudo o que tinha como certo se tornou incerto, e que o veículo dessa incerteza nem sequer existia na minha consciência, não era uma ameaça à minha vida, pois nunca tinha sido sequer pensado! Uma pessoa vive com medo disto, receio daquilo, e depois o que surge para nos ameaçar é algo totalmente novo! Curioso, não é?
Dei por mim a pensar se alguma vez voltaria a dançar no meio de milhares de pessoas, como nesse vídeo que escutava... Quando voltaria a estar com a minha família... Como será regressar ao trabalho... Como será sair de casa outra vez... Como será separar-me dos meus filhos... Será que me vai faltar o conforto a que estou habituada? Ficou mais longe a possibilidade de lhes dar a educação escolar em que acredito? Que dificuldades teremos de ultrapassar?
A incerteza é isso, é não saber... Chorei nesse momento, e desabafo mais um pouco com estas palavras. Durante o resto do tempo, não vale a pena consumir-me com esses pensamentos... Logo se verá!


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