sábado, 14 de março de 2020

Dia 1 - Isolamento Profilático



Há uma semana atrás, saí para ir ao teatro. Embora já circulasse muita informação sobre o COVID-19 e já tivesse feito mais algumas compras do que o habitual (por sugestão do meu marido), confesso que ainda não tinha tomado consciência da dimensão do problema. Ao longo da semana, fui me apercebendo da gravidade da situação, o medo foi crescendo e na quarta-feira só desejava que tomassem imediatamente medidas que me permitissem ficar em casa, em segurança, com a minha família.
Na quinta-feira, já não consegui fechar-me com os meus 21 alunos dentro de uma sala e, à falta de alternativa, dei todas as aulas na rua. Ao fim do dia, fui ao talho, ao supermercado e à farmácia. Felizmente, à noite, foi anunciado o encerramento das escolas a partir de segunda-feira. Expliquei à A❤, atualmente com 5 anos, que o dia seguinte seria o último dia de escola durante um tempo e que, para nos protegermos, ficaríamos em casa. Começou a chorar dizendo que queria ir à escola (ela que quase todos os domingos à noite diz que não quer ir à escola, que quer estar em casa com a mamã e o mano!). Mas depois de conversar com ela, compreendeu e aceitou a única coisa positiva que há em toda esta situação, que é o facto de que teremos muito mais tempo para estar com a família!
No dia seguinte, a maioria dos meus alunos faltou. Passei o dia, com um misto de alívio e de ansiedade, pois demorou a chegar a hora de poder ir buscar os meus filhos à escola. Quando finalmente, entrámos em casa, senti que tinha ultrapassado mais uma etapa, mas continuava receosa (e continuo!) de estar contaminada ou de alguém da minha família o estar...
Hoje, o dia decorreu com normalidade, tentei afastar-me um pouco dos meios de comunicação social, dediquei-me aos meus filhos e aos afazeres da casa.
Em alguns momentos, senti-me angustiada.
Telefonei à minha prima, que está a estudar em Inglaterra e que tem voo marcado para quarta-feira. Vinha passar apenas uma semana de férias com a família, mas neste momento não sabia se deveria arriscar-se a fazer a viagem. Aconselhei-a (sem saber se a estou a aconselhar bem) a vir para ficar. Uma situação destas não é para ser vivida longe da família! Agora receio que bloqueiem a entrada aérea em Portugal, antes dessa data, embora acredite que, à falta de controlo (que já deveriam estar a fazer há imenso tempo!), essa é a solução óbvia. 
Dediquei-me a apanhar ervas daninhas no quintal, enquanto os miúdos estiveram a brincar no baloiço e na casinha. Comprei uns pezinhos de variados legumes, pois finalmente vou ter tempo para fazer uma horta. Brincámos com legos, vimos desenhos animados e fizemos desenhos do espaço.
Hoje foi o primeiro dia de uma vida, que não tinha imaginado viver...

2 comentários:

  1. Amiga... É muito bom poderem ficar em casa e protegerem-se! Era tudo o que eu queria... Aqui em UK é ridiculo, fazem parecer que nao é nada demais, as pessoas fazem a vida normalissima. Eu estou a panicar e so quero poder ficar em casa com o meu filho

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    1. Oh amiga, só hoje me apercebi deste teu comentário...
      Como estão as coisas por aí? já há mudanças?
      A minha prima estava em Southampton, na faculdade. Aconselhámo-la a voltar e felizmente conseguiu vir. Também lhe estava a fazer imensa confusão estar tudo na boa, como se nada fosse, na faculdade, nas ruas, nas discotecas e bares...
      Por aqui, a minha última semana de trabalho foi horrível. Não podia passar o meu pânico e desconforto para os meus alunos, mas era assim que me sentia na verdade...
      Vai dando notícias. Beijo no <3.

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