quinta-feira, 20 de agosto de 2015

Baby-Led Weaning e Introdução Alimentar Tradicional - avanços e recuos

Cá em casa, não tem sido fácil a introdução de alimentos sólidos.

Quem acompanhou esta publicação, sabe que tínhamos decidido fazer esta iniciação seguindo o método Baby-Led Weaning, mas que fomos surpreendidos pela falta de interesse da nossa bebé em explorar os alimentos...

O que nos motivou a experimentar este método foi o facto de tanto eu como o pai (tal como grande parte das pessoas!) termos tido grandes lutas às refeições, quando éramos crianças. Lembro-me de ficar tempos sem fim em frente ao prato, no refeitório vazio da escola, enquanto os meus amigos brincavam no pátio. Contam-me que tirei o pio a um canário por bater na gaiola, enquanto a minha avó tentava distrair-me para que comesse um pouco mais. E hoje sou uma pessoa gulosa, que na maior parte das vezes come para além daquilo que precisa efetivamente. No que toca ao pai, não come muito, mas come com pouca qualidade e tem muita dificuldade em aceitar novos sabores.

No Baby-Led Weaning, a criança come sozinha. Assim sendo, habitua-se desde sempre a comer quando tem fome e parar quando está saciada, sendo menos provável que, mais tarde, venha a sofrer de distúrbios alimentares.
As lutas às refeições também deixam de existir, bem como a necessidade de entreter a criança com aviõezinhos ou com desenhos animados. Ninguém vai dar-lhe comida diretamente e muito menos obrigá-la a comer, por isso estas situações deixam de acontecer.
A criança aprende ainda a distinguir o sabor de cada um dos alimentos e desenvolve um paladar mais abrangente. Sabe também que se não gostar de algum alimento, não tem de o comer. Deste modo, mostra maior predisposição para provar novos alimentos ao longo da vida.


Mas as vantagens não ficariam por aqui.
Rapidamente o bebé passa a comer o mesmo que toda a família (sem ser necessário preparar refeições especiais para ele).
O facto de ser o bebé a conduzir a comida à sua boca ajuda ao desenvolvimento da coordenação motora olho-mão.
Como os alimentos não são triturados, também a capacidade de mastigação é desde cedo trabalhada, com repercussões positivas no desenvolvimento da fala.

A maior vantagem, contudo, seria a passagem de um tipo de alimentação para outro, de forma natural, sem traumas associados, mas sim com a alegria e o entusiasmo que caracterizam todos os processos de aprendizagem vividos pelo bebé.

Contudo, a nossa bebé mostrou ser uma bebé atípica! Embora seja muito atenta a tudo o que a rodeia, revele curiosidade e mostre interesse em explorar tudo aquilo com que contacta, os alimentos mostraram ser uma exceção. Depois de os colocar na boca uma primeira vez, a alegria desvanecia-se... Ao fim de alguns dias nisto, o entusiasmo esfumava-se de tal forma, que fazia de conta que nem estava a ver os alimentos em cima do tabuleiro!
Provavelmente não estava ainda preparada para iniciar a alimentação complementar... Mas só tínhamos até ao início de setembro para fazer esta transição (mesmo assim mais tempo do que a maioria dos casos), altura em que regresso ao trabalho.

Numa tentativa de perceber o que se adaptava melhor a ela, fomos alternando entre disponibilizar-lhe os alimentos, tentar dar-lhe sopa à colher e deixá-la explorar a sopa com a colher e com as mãos.

Se de início a banana até lhe suscitou um ligeiro interesse, ao fim de uns dias nem olhava para ela, quanto mais segurá-la! O mesmo aconteceu com a cenoura, na qual se recusa a pegar. Quanto aos brócolos e à couve-flor, por exemplo, desfá-los completamente com as mãos mas não chega a prová-los.
Se num dia ou outro até permitia que lhe colocássemos duas colherzinhas de sopa na boca, no dia seguinte começava a chorar ao fim da primeira tentativa e nós não insistíamos...
Se, nas primeiras vezes em que a deixámos brincar com a colher e com a tigela, ainda comia alguma sopa, passado pouco tempo, começou a atirar as colheres para o chão, mexendo na sopa com as mãos, mas nunca as levando à boca.


Quase um mês depois, estava a ficar verdadeiramente desanimada... Nada estava a resultar! E o que parecia que até tinha resultado ligeiramente num dia rapidamente deixava de ser eficaz!
Mantive sempre a calma exterior em todas as refeições falhadas, mas confesso que interiormente estava a começar a sentir-me desgastada e um pouco perdida.
Deveria obrigá-la a comer? Não acreditava que tal fosse a decisão acertada... Mas se ela também não pegava nos alimentos sozinha, que outras opções existiam?

Ao longo deste tempo e das referidas tentativas, acabei por utilizar à experiências um utensílio, que me foi oferecido por um amigo, quando a bebé nasceu. Chama-se ClevaFeed e é uma espécie de chucha, mas como uma tetina de silicone um pouco maior, perfurada e em cujo interior se colocam os alimentos. À medida que o bebé vai chupando, pedaços dos alimentos vão sendo libertados, passando por esses pequenos furos.


A primeira vez que o usei, disponibilizara um pedaço de pêssego à minha bebé e, assim que ela lhe tocara com os dedos, tinha o ignorado completamente. Então coloquei o mesmo pedaço no ClevaFeed e ela sugou-o com gosto.
Fiquei com a ideia de que, apesar de gostar do sabor, não gostava de sentir sua a textura. Mais tarde, ao vê-la desfazer outros pedaços pêssego com as mãos, percebi que afinal o que ela não queria era despender esforço a agarrar aquela coisa escorregadia!

Tenho feito esta experiência uma ou outra vez, para perceber se ela gosta dos alimentos (e para que ela também o descubra). Contudo, não quero que este instrumento esteja presente em todas as refeições, porque não é um objeto que nós adultos usemos, como a colher ou o garfo, e que ela tenha de aprender a manipular. Para além disso, no caso de alimentos mais fibrosos como é o pêssego, ela só consegue obter o sumo, pois a polpa fica no interior da tetina.

Em alternativa, quando vejo que se desinteressa dos alimentos porque tem dificuldade em segurá-los, agarro-os eu, ela coloca as mãos em volta e aproxima-os da boca a seu gosto.


Neste momento, passou mais de um mês e meio e ela vai petiscando, com as suas mãos, pêssego, melão, melancia, pera, ameixas, abrunhos...
Estava muito recetiva ao pão, mas fez uma reação alérgica e vamos ter de esperar pela consulta de alergologia para o poder voltar a comer.
Também revelou gostar de frango. Há dias, ficou cerca de um quarto de hora com um pedaço na boca! Tanta volta deu que conseguiu desfazê-lo e engoli-lo!

E, surpreendentemente, na semana passada, abriu pela primeira vez a boca com gosto para comer uma colherada de pera cozida! Depois disso, já o fez para comer maçã cozida, pêssego esmagado, papas... Enfim, tudo o que seja doce!


Neste momento faz-me sentido que também coma alguma sopa. Será a avó quem ficará com ela durante o dia, quando eu regressar ao trabalho, e sei que não está muito à vontade para a deixar comer os alimentos inteiros. Para além disso, sem que eu esteja presente para que possa mamar, acredito que a quantidade de alimentos ingerida em BLW não seja suficiente. E como apenas petisca frutas e carne, recusando os legumes inteiros, esta é a forma que encontro de os ir incluindo na sua alimentação.
Assim, tenho lhe dado sopa à colher alternada com fruta, ou misturando as duas na mesma colher. Faz umas caretas, mas vai engolindo... Não vai muito além das seis ou sete colheres (pequeninas!), mas já é um grande progresso!

Que aprendizagens retiro de tudo isto?
Que mais importante do que escolher um método de introdução alimentar, há que iniciar esse processo tranquilamente e ciente de que é possível que nem tudo corra bem à primeira. O mais provável é que seja um longo percurso, cheio de avanços e recuos.
Há que vivenciar os momentos de desinteresse ou recusa do bebé em relação aos novos alimentos de forma paciente, mas não deixando de insistir e acreditando que, mais cedo ou mais tarde, ele há de dar sinais de interesse e aceitação relativamente a algo.
Também acho que não há nada de errado em ir experimentando diferentes formas de dar comida ao bebé, mesmo que em algumas ele tenha um papel mais passivo, ou que difiram um pouco do modo como esse alimento é habitualmente consumido. Para além disso, comidas trituradas fazem tanto parte da nossa dieta alimentar como alimentos inteiros, pelo que não vejo necessidade de excluir totalmente sopas e papas deste processo.

Cá em casa, não estamos portanto a seguir de forma pura o Baby-Led Weaning, embora continuemos a acreditar nos seus benefícios. Em vez disso, estamos a ler os sinais que a nossa bebé nos vai dando diariamente e a articulá-los com aquilo que nós vamos sentindo.
Caramba! Apesar das evidências, nunca me tinha apercebido de que alimentar alguém está de facto  impregnado de uma grande carga sentimental... Não admira que as avós queiram sempre que comamos só mais um bocadinho!

 

2 comentários:

  1. não sei que idade tem o teu bebé mas o meu tem 12 meses e nos primeiros tempos de diversificação alimentar foi muito difícil. na verdade continua, não posso dizer que o meu bebé coma bem e em grandes quantidades. mas tal como tu não quero forçar a comer e criar traumas. gostava que ele apreciasse mais a comida.

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    1. A minha bebé está com sete meses e meio...
      Entendo-te perfeitamente, mas acho que temos de pensar que mais importante do que comerem muito ou com muito gosto, importa que sejam saudáveis e felizes... Se calhar, surpreendem-nos e quando forem mais velhos começam a apreciar a comida!

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