quarta-feira, 14 de março de 2018

Matemática aos 3 anos? Porque não?

Cá em casa, a nossa filha de 3 anos vai aprendendo conteúdos de Matemática sem se dar conta.

Decidi escrever este texto, pois sendo professora de 1º ciclo, estou certamente mais desperta para uma quantidade de situações do dia-a-dia em que nós, pais, podemos abordar a Matemática de uma forma divertida e natural. Se converso com ela acerca das mudanças que vão surgindo com as diferentes estações do ano, nomeio os diferentes ingredientes usados na refeição quando me pergunta "o que é hoje a papinha?", ou faço questão de referir os nomes das cores quando escolhemos a roupa ou pintamos com lápis, porque não havemos de falar de números, de conceitos geométricos e até resolver problemas?
Temos um ou outro livro que incita a que façamos contagens.
Também contamos os dedos das mãos e dos pés, quando em jeito de brincadeira lhe perguntamos: "Quantos dedos tens hoje? Parece-me que já não tens todos os que tinhas ontem!".
Contamos as cenouras que pomos no saco no minimercado.
Contamos as moedas que o avô lhe dá para pôr no mealheiro.
Contamos as bolachas e as passas que tiramos do pacote.
Contamos o número de casas a avançar nos jogos de tabuleiro.
Contamos os passarinhos que estão pousados na árvore do nosso quintal.

No outro dia, fui surpreendida por ela, pois, ao entrarmos em casa, reconheceu os algarismos do número da nossa porta. Nunca fiz nenhuma atividade específica de reconhecimento de números, nem tentei "ensiná-los" de forma nenhuma, mas, pelo simples contacto com os livros onde eles aparecem, ela associou os símbolos e identificou-os.

Contudo, ensino-lhe lengalengas, que a vão ajudando a desenvolver o conceito de número e que, mais tarde, lhe serão úteis na capacidade de realizar cálculos mentais.
É o caso da seguinte, que é feita com mímica, e que termina sempre com uma enorme gargalhada. Adivinhem porquê!
"Um mais um igual a dois,
Nesta quinta havia bois.
Dois mais dois igual a quatro,
E também havia um pato.
Três mais três igual a seis,
Os seus donos eram reis,
Quatro mais quatro igual a oito,
Que gostavam de biscoito.
Cinco mais cinco igual a dez,
E cheiravam mal dos pés!"
Há um livro fantástico da Manuela Castro Neves (professora maravilhosa em cuja sala tive a felicidade de estagiar!), que ensina muitas lengalengas deste género: Tantos animais e outras lengalengas de contar.

 
Quando saímos o portão de casa, de acordo com o local onde deixei o carro estacionado, digo-lhe sempre "agora viras à esquerda" ou "agora viras à direita" e surpreendentemente já sabe identificá-las em diferentes situações, nomeadamente no reconhecimento das mãos e dos pés.
Já sabe algumas formas geométricas, devido a um jogo que jogamos habitualmente.
E gosto de chamar as coisas pelos nomes. Se uns calções não são umas calças e uma tangerina não é uma laranja, porque é que um círculo há de ser uma bola? Se ela me questiona em relação à forma das moedas ou dos sinais de trânsito, como já aconteceu, digo-lhe que são círculos. Quando brincamos com um jogo de madeira que tem cilindros de diferentes cores, faço questão de lhes chamar cilindros. Quando me refiro a um brinquedo do mano em forma de prisma triangular, chamo-lhe prisma.
Já alguma vez questionaram porque é que as crianças no 1º ciclo (e até mesmo os adultos!) identificam mais facilmente o cubo do que os outros sólidos geométricos? Eu acredito que é pelo facto de toda a vida terem ouvido os cubos serem chamados de cubos! "Já arrumaste os teus cubos?" e "Gostas desse puzzle de cubos?" são só dois exemplos de frases que ouvem com frequência.
Não exerço qualquer tipo de pressão para que a minha filha use estas palavras, apenas as uso eu própria, em contexto, para que ela se familiarize com elas.

E quanto aos problemas matemáticos? É aproveitar as situações do dia a dia, não dar respostas imediatas e pôr as crianças a pensar.
No outro dia, dei-lhe um iogurte ao lanche e ela perguntou-me quantos estavam no frigorífico. Em vez de lhe responder logo, criei uma situação problemática. Agarrei em seis pares meias que estavam enrolados mas ainda por arrumar, e disse-lhe para imaginarmos que eram os seis iogurtes que tínhamos comprado na véspera. Depois pedi-lhe que tirasse aquele que estava a comer e que contasse os restantes. "Um... dois... três... quatro,.. cinco!", contou devagarinho. "Então quantos iogurtes estão no frigorífico?", perguntei eu. "CINCO!"


Quando jogamos aos pares, no final, temos de contar quantos conjuntos cada uma tem para saber quem ganhou. Então, aproveito sempre para fazer a correspondência entre os meus e os dela. Os que sobram são os que estão a mais e que dão a vitória a uma de nós. Ontem, foi ela que tomou a iniciativa de fazer isso e a brincar, a brincar, vai ganhando a consciência da correspondência entre elementos de dois grupos.

'Bora lá pôr as nossas crianças a brincar com a Matemática! É divertido! E vai ajudá-las aquando da entrada para a escola...

2 comentários:

  1. Parece lá em casa...e eu nem sou professora nem nada...as tudo surge naturalmente...e por acaso também temos esse livro.

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    1. Que bom saber! É tudo uma questão de estarmos atentos e conectados com eles e com o que nos rodeia. :)

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