segunda-feira, 19 de março de 2018

Diário de uma Mãe a Tempo Inteiro - Dia 1

Nos últimos dias, tenho seguido curiosa e entusiasticamente alguns diários de famílias que praticam Ensino Doméstico, num grupo do Facebook de que faço parte. Tenho refletido e saído enriquecida destas leituras, ainda mais consciente do que quero construir com a minha família...
Então, fiquei cheia de vontade de registar e partilhar também com o mundo como é o dia-a-dia cá em casa! Vou fazê-lo ao longo de uma semana.
Estou quase há um ano como mãe a tempo inteiro e (infelizmente) falta pouco mais de um mês para que regresse ao trabalho. Estes tempos têm sido verdadeiramente maravilhosos, no que toca à ligação afetiva com os meus filhos, presença e envolvimento total no seu desenvolvimento, e meu crescimento enquanto pessoa.
Penso que vou adorar reler estas memórias daqui a uns anos! E talvez assim consiga explicar, aos que frequentemente me perguntam como consigo estar com duas crianças em casa todos os dias, o quão encantador isso é!
Nas publicações anteriores do blogue, tenho optado por não referir o nome dos meus filhos, mas neste tipo de relato tal tornar-se-á difícil. Então decidi optar por pseudónimos. Ela será a Elisa e ele o Damião.

DIA 1 - DOMINGO




O Damião foi o primeiro a acordar. Ultimamente tem sido assim. Puxei-o para a minha cama, dei-lhe maminha e ficámos nos mimos, mas como não parava de emitir sons, cheio de energia para o novo dia, a mana acabou por acordar também. Ao fim de um bocado, saímos os três da cama e deixámos o pai a dormir mais um tempo.
Sentei o Damião no cantinho da sala com chão de borracha, onde brinca habitualmente, e a Elisa aproximou-se com uns livros que trouxe do seu quarto. Um deles era de animais selvagens e ela foi perguntando onde vivia cada um deles.
De seguida, vim para a cozinha preparar o meu pequeno almoço e da Elisa. Gostamos de comer fruta com iogurte e cereais e hoje não foi exceção. A Elisa queria ajudar-me, pois é frequente ajudar-me a cortar a fruta em pedaços, mas a cozinha estava uma enorme desarrumação, já que ontem jantámos muito tarde e tanto eu como o pai não tivemos vontade de arrumar nada. Então, disse-lhe que não e expliquei porquê. Começou a argumentar a seu favor e pensei que, tal como tem acontecido nos últimos dias, íamos entrar numa discussão em que não aceita o que lhe digo, faz apenas o que lhe apetece, acabo por me zangar ou então ela começa a chorar. Mas não, continuou apenas a argumentar, dizendo que "é tão injusto" e que estava triste. Eu continuei a responder-lhe, dizendo que compreendia que se sentisse assim porque gosta muito de me ajudar, mas que ela também tinha de compreender que eu só podia deixá-la se as condições estivessem reunidas para tal, que injusto seria se eu nunca a deixasse colaborar comigo independentemente do estado em que estava a cozinha. E embora contrariada e cabisbaixa, aceitou a minha decisão e foi brincar com o mano. Senti-me feliz por ver aqui uma evolução no seu comportamento.
Durante a refeição, o Damião ficou a brincar sozinho no tapete e eu ia espreitando de vez em quando. É muito bom ver como explora autonomamente os brinquedos durante períodos de tempo consideráveis.
Depois, a Elisa pediu-me para ver desenhos animados. Temos esta regra de que vê desenhos animados uma vez por dia e ela normalmente opta por fazê-lo logo de manhã. Quis ver a Branca de Neve e encontrei uns desenhos dos anos 80 com vários contos tradicionais. Viu um episódio, mas como a história ficou a meio, combinei que veria o resto à tarde.
O Damião entretanto estava impaciente e choroso, penso que por causa de um dente que deve estar quase a romper. Não estava bem no colo, nem a brincar, mas também não queria dormir.
O pai levantou-se entretanto e depois de cuidar de si e do cão, começou a arrumar a cozinha.
A Elisa sentou-se na sua mesinha, de volta dos trabalhos manuais. Desde que fizemos o dinossauro com rolos de papel higiénico, tem feito várias colagens com outros rolos, pedaços de papel e cartões. Pinta com canetas, com lápis e diz que está a fazer as coisas para a festa.
Quando reparei, estava com as mãos todas riscadas de caneta e marcadores. Há dois ou três dias atrás, fez a mesma coisa. Achei graça, pois foi fazê-lo escondida debaixo da mesa, o que significa que tinha alguma noção de que não era uma ideia muito boa, mas não dei muita importância ao que se passara. Apenas lhe disse que lhe ia ser certamente difícil lavar as mãos e, quando foi lavá-las, acabei por a ajudar pois não conseguia sozinha. Fiquei surpreendida por hoje repetir a experiência. "Para quê?", perguntei. "Para ficar com as mãos mais bonitas.", explicou-me. Na verdade, gostos não se discutem e seu eu própria tenho tatuagens porque é que ela não pode usar uns gatafunhos nas mãos?! Fui ajudá-la a lavar novamente as mãos, estive a mostrar-lhe que temos poros para a pele respirar e que cobrir as mãos com tinta podia ser prejudicial e causar-lhe até algum tipo de reação alérgica... Vamos lá a ver se a minha explicação foi suficientemente dissuasiva...
De seguida, dei maminha ao Damião e ele acabou por adormecer. A Elisa veio sentar-se junto a mim e ficámos os três abraçados por um bocado. Depois, fui deitar o Damião na sua cama e regressei à sala, começando a dobrar roupa. Devo já avisar que esta é uma tarefa que me ocupa muito tempo cá em casa... Nem imagino como seria se a passasse a ferro!
A Elisa apareceu ao pé de mim com um pauzinho de madeira que tem atadas duas fitas compridas de tecido, e ficou a rodopiar durante um tempo incansável, a cantar, a cantar... Ia inventando canções que falavam de coisas da sua vida, como da amiga que esteve muito tempo sem ver mas que agora está presente novamente, ou de como deve fazer o que os pais dizem, ou de como fica com calor por andar à roda... Admito que já estava a ficar cansada de a ouvir e que me incomoda um pouco esta mania que tem de andar à roda, mas ao mesmo tempo estava a achar tão interessante aquela análise que ela estava a fazer de si própria, quase como se em transe, que fiquei apenas a observar (e a dobrar roupa!).
O Damião acordou entretanto e ficaram ambos com o pai, enquanto eu me sentei no sofá, aproveitando para fazer alguma divulgação do blogue. A Elisa mascarou o pai de fada e a si própria de princesa. De repente, dei por mim já no meio da brincadeira, sendo a mãe da princesa e tentando defendê-la dos poderes da fada.
Já estava a ficar com fome e fui para a cozinha, tratar da papa do Damião, aquecer sopa e fazer uns rissóis com arroz e espinafres para nós. A Elisa ajudou dando a papa ao mano e eu continuei de volta da comida. Quando ela se cansou, terminei eu a tarefa de dar a papa e depois sentámo-nos todos à mesa para comer.
A seguir ao almoço, fomos os quatro para a nossa cama, o pai numa ponta, a mãe noutra, e o Damião e a Elisa no meio. Trocamos mimos e eles foram acalmando. Ainda passei pelas brasas uns minutos, mas quando eu e o pai nos apercebemos de que eles estavam mesmo a dormir, saímos do quarto pé ante pé.
Aproveitei para começar a escrever o diário e o pai esteve a ver uma corrida de motas na televisão. Não passou nem meia hora até que o Damião acordasse, mas a Elisa voltou a adormecer e ficou a dormir durante bastante mais tempo. Eu e o pai fomos dividindo a atenção entre o bebé e algumas tarefas domésticas. Também estivemos os três na brincadeira e nos carinhos no sofá!
Quando a Elisa acordou, tínhamos colocado o irmão no carrinho e eu embalava-o na tentativa que adormecesse. Falámos acerca do que haveríamos de fazer em família e ela sugeriu que fizéssemos um vitral da família. Para contextualizar, há um episódio da Princesa Sofia, em que o rei oferece um vitral com a imagem da família à rainha, e eu creio que a sua ideia veio daí. Expliquei-lhe que não tinha em casa tintas próprias para pintar vidros, mas que poderíamos deixar esse projeto para outra altura e limitar-nos a pintar com aguarelas. Achou a ideia fantástica e preparou tudo no chão da sala - trouxe folhas, as aguarelas, três pincéis e até encheu um tacho de brincar com água, mas esse eu pedi-lhe para trocamos por um copo que me pareceu ter menos probabilidades de verter para o chão.
Já quase me esquecia que uns instantes antes do almoço, a Elisa se lembrou de encher esse mesmo tacho com água do biberão do mano e entornou imensa água no chão da sala. Não vi, porque andava ocupada, mas o pai zangou-se com ela. À mesa, falámos sobre isso e afinal ela "apenas" queria encher uns copinhos de borracha de um brinquedo do Damião "com chá para a festa".
O pai entretanto teve a ideia de fazer gambas no forno para o jantar. Andou a pesquisar receitas e depois saiu para comprar os ingredientes em falta.
Ambas sentimos fome e lanchámos.
Depois, ela quis ir brincar para o quintal. Vestiu uma camisola e calçou as galochas e saiu. Ficou muito tempo sozinha, a andar de baloiço, a cantarolar e a falar coisas que eu não conseguia ouvir, no seu mundo pessoal. Estava sol e parecia estar agradável na rua, mas eu aproveitei para dobrar mais alguma roupa e conversar um pouco com o pai, que entretanto regressara e estava a tratar da marinada. Dei também uma arrumação geral à casa...
A Elisa chateou o irmão, fez um puzzle de madeira e andou de bicicleta pela casa.
Mais tarde, vieram os avós paternos. A avó ficou a dar atenção ao Damião e o avô sentou-se com a neta a ver a segunda parte dos desenhos animados da Branca de Neve. No fim, jogaram todos a um jogo de cartas. Eu e o pai aproveitámos para começar a tratar das refeições. Fiz sopa para o Damião e, enquanto o pai lha dava, fui adiantando lulas para amanhã.
Optámos por dar banho aos miúdos antes do nosso jantar e os avós aproveitaram o momento para se despedir. Quando estava a secar o Damião, ele fez cocó na toalha (nunca tal tinha acontecido!)... Ainda estava a tentar perceber o que fazer, e começou a fazer xixi. Decididamente, voltou para a banheira!
Adormeceu facilmente a seguir.
Eu, a Elisa e o pai jantámos então.
Antes de ir dormir, a Elisa pediu-me para lhe mostrar no tablet alguns livros. Descobri há uns dias, um canal de YouTube que tem muitos livros infantis em inglês. Ela vai escutando as histórias e a minha tradução. Gostamos muito de "Because of an Acorn" e de "Bear and Hare - Where's Bear?", mas ainda só conhecemos alguns dos livros...
Normalmente é o pai que a deita, mas ela pediu-me para ser eu e assim foi. Tapei-a com o edredão, dei-lhe um beijinho e relembrei-a do quanto gosto dela. Fiquei no sofá do seu quarto à espera que adormecesse e depois vim para a sala terminar o diário. Até nos deitarmos, eu e o pai aproveitaremos este tempo para nós. Ele está a ver um documentário na televisão. Eu sou capaz de ir ler um pouco ou escrever...
Ups! O Damião está a chorar, está na hora da maminha!...

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