sexta-feira, 24 de agosto de 2018

Quer fazer tudo à sua maneira e acaba por dar asneira!

Cá em casa, a nossa filha de 3 anos e meio é muito decidida e frequentemente quer fazer as coisas à sua maneira. Mesmo em situações em que lhe dizemos que não o faça, insiste e, se acaba por o fazer, é bem provável que "dê asneira"!

Às vezes, ficamos irritados, pois "bem que avisámos!". E lá vem a conversa de que tem de escutar o que lhe dizemos, de que se os pais lhe dizem para fazer algo de determinada maneira ou para não o fazer de todo é porque conseguem prever o que vai acontecer e querem o melhor para ela, blá blá blá blá blá blá... Ou então, num momento em que estamos com menos paciência, acabamos mesmo por elevar a voz perante essa teimosia e definimos uma "consequência" qualquer para que aprenda a não ser tão teimosa.

Mas... dei por mim a pensar há instantes, porque será que nos irrita tanto que queiram fazer tudo sozinhos e à sua maneira?

Não queremos filhos autónomos? Decididos? Proativos? Persistentes? Capazes de encontrar soluções?
Queremos... Eu, pelo menos, quero!
Então que contrassenso é este?


Dei por mim nestes pensamentos, enquanto embalava o mano no carrinho e olhava pela janela. Vi a coberta da piscina estendida e lembrei-me do que se passou de manhã. Estávamos no quintal e a minha filha lembrou-se de que queria tapar a piscina, pois queria que a água estivesse quentinha da parte da tarde. Eu disse-lhe que era boa ideia e que a ia ajudar. 
"Eu consigo sozinha!"
"Não consegues não, pois é preciso ter braços mais compridos. Eu vou ajudar-te."
E nisto dirigi-me à piscina, para retirar de lá as boias. Quando me virei, lá vinha ela com a coberta a arrastar pelo chão.
"Eu disse que te ajudava! Vens com isso a arrastar pelo chão e agora não dá para pôr na piscina, se não vai ficar toda suja! Porque é que não esperaste por mim?", disse chateada. Penso que controlei o tom de voz, mas lá veio a "consequência" e o sermão: "Agora a coberta vai ficar aqui na corda a secar, para podermos sacudir a terra mais tarde. Se tivesses tido calma e feito com te disse já tínhamos a piscina tapada!"
Consigo agora, que me encontro emocionalmente distante do momento descrito, perceber que não fiz mais do que castigar a minha filha por ter tido a iniciativa de fazer algo que era importante para ela, mas que infelizmente não correu como desejava. Poderia ter feito a observação de que a coberta estava suja, de que poderia ter tido calma, esperando pela minha ajuda, e de seguida ir buscar a mangueira para a limpar, colocando-a sobre a piscina.
Porque é que não o fiz? Talvez porque há uma tendência inconsciente de repetir padrões e provavelmente foi isto que vi fazer toda a vida... Nem sei se terá sido no meu seio familiar, mas não duvido de que é o que acontece na sociedade em geral. Ela não me obedeceu e isso mexeu com os meus sentimentos e o meu orgulho.
Teria dado mais trabalho limpar a coberta, pois teria... Mas transmitir-lhe-ia a ideia de que estou cá para ajudá-la mesmo quando toma decisões menos acertadas. Ensinar-lhe-ia que perante os problemas, há que encontrar soluções em vez de nos focarmos no lado negativo. Ter-lhe-ia mostrado que errar não faz mal, mas que é importante termos humildade para escutar os conselhos dos outros, pois estes também têm humildade para nos ajudar, mesmo quando vamos contra as suas opiniões e juízos.

Ontem, quando já estava escuro, lembrou-se de ir apanhar um tomate à horta que tinha visto estar já vermelho. Embora lhe dissesse que não era boa ideia, pois já era de noite e poderia fazê-lo no dia seguinte, insistiu, pegou na boneca luminosa e lá foi. Voltou cabisbaixa com um tomate verdíssimo e pediu-me desculpa.
Anteontem, insistiu em ir para a piscina de manhã. Expliquei-lhe que a piscina estava à sombra e que a água estava fria, que talvez fosse melhor ir só depois do almoço. Tanto insistiu que acedi. Entrou dentro de água, arrepiou-se toda, nem chegou a molhar o tronco e ao fim de uns minutos quis sair.
Já insistiu em colocar a água no copo, quando o jarro era demasiado pesado, tendo entornado tudo. Já insistiu em colocar mais cereais no iogurte, apesar dos avisos de que seriam demais para a sua necessidade, não sendo depois capaz de terminar a refeição. Já encharcou completamente a casa de banho por decidir lavar as mãos no lavatório com o sabonete líquido novo, embora eu lhe tivesse dito (várias vezes!) que fosse lavar as mãos no bidé. Já sujou os ténis que dão luz, arriscando-se a que ficassem estragados na lavagem, por ter decidido ir brincar com eles para a terra, apesar dos meus avisos em contrário. Já insistiu em comer ameixa, apesar das minhas recomendações para que não o fizesse por não estar madura, sendo depois incapaz de o fazer de tão azeda que estava.
E nestas e noutras situações semelhantes, vou reagindo, ora com mais calma e flexibilidade, ora com maior exacerbação e intolerância.

O facto de hoje ter parado para refletir, tornou-me mais consciente e ajudar-me-á certamente a reagir mais adequadamente nas situações futuras.
Quando a minha filha toma a iniciativa de fazer algo à sua maneira está apenas a querer experimentar o que resulta ou não na sua relação com o mundo. Nem sempre está a querer contrariar-me, confrontar-me, pôr-me à prova (embora às vezes também o faça!)... Alguns dos meus conselhos serão escutados, mas em muitas situações ela terá de passar à ação e contactar diretamente com as consequências das suas escolhas. Outras vezes, estará tão entusiasmada com a sua ideia que não haverá tempo para a reflexão, fará as coisas sem pensar!
E eu estou cá para dar umas mangueiradas na coberta da piscina, lavar os ténis cuidadosamente à mão, dar uma risada quando a sua cara faz mil expressões de desagrado ao mastigar a ameixa!

1 comentário:

  1. ...e é mesmo!!! Difícil é distanciarmo-nos emocionalmente, é tomar consciência e ter a tal de humildade para nos redimirmos e corrigirmos os nossos comportamentos, é não reagir sob o peso da nossa bagagem cultural e educacional, é ousarmos em contrariar aquilo que sempre ouvimos e fizemos, é parar, pensar, avaliar e agir... enfim, é aprender sempre e aproveitar ajudas como estas dicas e pensamentos. Obrigada!
    Tia babada

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